domingo, 8 de novembro de 2015

Sobre Contribuições, Investimentos e sustentabilidade




Surgiram dúvidas sobre os diferentes modos de lidar com a valoração econômica / financeira em atividades coorganizadas por Cardumes em rede e por outros propositores em Contato Improvisação. Afinal, qual a diferença e para quê tratar de "contribuição consciente", "contribuição espontânea" e "investimento consciente"?


Economia como experiência

Primeiramente, é importante dizer que o campo da economia criativa se mostra desafiador para nossas concepções financeiras e de participação efetiva. Já não se trata de simplesmente pagar por um serviço e com isso quitar nossas responsabilidades e relações com o acontecimento. Agora, com os paradigmas expressos pelo que podemos chamar de pensamento sustentável, cada um tem a oportunidade de se sensibilizar para os movimentos que tornaram (e tornam) viáveis o acontecimento e sua continuidade.

Dessa forma, o modo tradicional e unilateral de fixar um valor para um produto/serviço tem sido substituído pelo exercício de oferecer possibilidades de autonomia para cada um entender ou criar parâmetros de valoração – entendendo que autonomia inclui interdependência. Vamos entender isso diferenciando alguns modos de valoração que tem sido experimentados:


Modos de Valoração

O que entendo por Investimento Consciente?

É o modo de valoração onde os participantes são instruídos, antecipadamente, sobre diferentes parâmetros/faixas de contribuição sugeridos para o ingresso na atividade. Isso não exclui a possibilidade do participante que não tem condições financeiras participar, assim como cada participante pode escolher um valor diferente dos parâmetros colocados. Com a sugestão de parâmetros/faixas de contribuição, os organizadores priorizam a retribuição financeira naquele momento – o que pode ser repensado em momentos e casos específicos.

O que entendo por Contribuição Espontânea?

É o modo de valoração onde cada participante pode oferecer, desde antes da atividade e depois, sua contribuição financeira. Geralmente, as contribuições são colocadas em uma caixinha de contribuição deixada na porta do espaço de realização da atividade ou por um chapéu que é passado ao final da mesma.

O que entendo por Contribuição Consciente?

É o modo de valoração onde todos os participantes tomam consciência sobre o trabalho, custos e requisitos humanos envolvidos com a realização da atividade. De modo geral, ao final da atividade e após um diálogo aberto sobre os itens citados, cada um cria seus próprios parâmetros para estabelecer sua contribuição – que pode ser financeira, de apoio, de trocas, da forma que for mais significativa, justa e sincera o possível. Depois disso, os organizadores reunem as contribuições e, através de um outro diálogo de onde cada um expõe sua necessidade e a sustentabilidade é ressaltada, buscam um consenso na distribuição dos recursos alcançados.


Caminhando para a Contribuição Consciente

A Contribuição Consciente, entre os três modos de contribuição colocados, parece se aproximar mais de uma experiência coletiva ao mesmo tempo econômica e sensível. Entender a valoração econômica como algo que abarca tanto a valoração financeira quanto a valoração por trocas amplia o campo de atuação e sustentabilidade. Ao mesmo tempo, o diálogo franco sobre os movimentos financeiros necessários e possíveis a cada um, torna o ato de contribuir um ato político e de autonomia frente ao capitalismo das micro-especulações cotidianas. É possível que os modos de valoração sejam melhor explicados na prática e que outros modos surgirão no futuro. Quem puder contribuir para essa pesquisa, só entrar em contato!


OberDan Piantino
artista-gestor para Cardumes em Rede
artista-professor no SummuS Contato Improvisação

cardumesemrede@gmail.com  | (41) 9929.6654 tim / whatsapp

2 comentários:

  1. Excelente texto, Oberdan.
    Eu não havia encontrado ainda uma reflexão assim sistematizada sobre essa questão.
    Não sei se algum ou nenhum desses modelos estão de fato funcionando para nós, na nossa lida de viver e construir com nossas artes, mas sei que devemos continuar buscando.
    Existem medos, eu sei, existem apegos, carências, frustrações e existe, sobretudo, um cerco cruel de um mundo "sem arte" e de mesquinhez.
    Então o tema fica todo sensível.
    Mas sensíveis e possíveis somos!
    :)

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  2. E as coisas, às vezes, podem ser tão simples como dividir a conta do bar.
    Por exemplo, estabelecemos que para realizar um determinado evento a conta é, por exemplo, R$ 2.000.
    Estabelecemos um valor inicial de contribuição, calculando um número mínimo de participantes, vamos supor que 10 pessoas, contribuição inicial de R$ 200.
    Não temos a ambição de irmos além dos R$ 2.000, se já tivermos estabelecido esse valor com justiça (de razão e de emoção), então se começamos a ter mais que 10 participantes, a conta começa a diminuir pra todo mundo, e no final dinheiro que sobra será devolvido igualmente entre os participantes.
    Se alcançamos 40 pessoas, a contribuição já teria caído para R$ 50 pessoas!
    E um evento poderia ser muito mais legal e recompesador com 40 pessoas do que com 10. Um professor que viaja, por exemplo, está igualmente preparado para uma turma de 10 ou de 40.
    Nesse caso as pessoas interessadas em participar também se tornam divulgadores e se co-responsabilizam neste aspecto pelo sucesso do empreendimento.
    E o exercício de consciência e confiança ainda é muito bem vindo e necessário. Fizemos isso na Bahia, uma vez, decidindo em roda não devolver o dinheiro que sobrou (que não era muito, e foi divulgado), mas oferecer como desconto para duas pessoas que haviam pedido e acreditamos na necessidade (as pessoas nao foram expostas na roda).
    Tínhamos também a opção de ficar com uma sobra de caixa para evento seguinte, o que já baixava a contribuição inicial do evento seguinte, ou poderia servir de desconto para aqueles entre os participantes deste evento que também se interessasse pelo outro.
    Etc etc etc.


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